terça-feira, 17 de novembro de 2015

abrigo



Temo o desamparo como quem ri ao não entender uma piada.
Temo o desamparo registrado nas reclamações ouvidas na rotina.
Temo o desamparo dos corpos ternos abandonados por aí.

Só o sonho de ser o que sou me desabrocha.
Me sonho abrigo: lugar-estação onde o desamparo não consegue alcançar.
Abrigo todo feito com feixes de luz e voo de borboletas,
Com paredes chapinhadas de deus
E gargalhadas de minha avó ao fundo.

Na varanda, porque só há varanda,
O vento o mar o azul.

Abrigo onde abraçar e respirar são sinônimos
E mãe é chamamento para tudo,
Com balanços pendurados nas nuvens onde todos em infância crianceiam a pureza de sermos vivos.

Nesse lugar sem condições ou enquadramentos, basta o corpo vindo sem nada.
Basta a vida que pulsa pelo seu lado de dentro.
Basta estar disposto a se benzer todos os dias,
Com suor e lágrimas.
Nele viveremos todos infinitamente juntos dentro do corpo sagrado da luz.


E que assim seja.

Um comentário:

  1. Que seja assim
    um abrigo onde pés e mãos se cruzam
    dor e sol se olham
    faísca e nuvem se convertem
    assim
    seja assim
    a sinfonia branca que se
    quebra em tornozelos
    que se torna zelo
    de joelhos santos

    um amigo que abriga o peito de um abraço
    uma noite que enlaça o leito de um afago

    que seja assim
    um norte e um atraso
    um descompasso
    mas que seja assim
    sempre abrigo

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